TERMINEI DE LER MRS. DALLOWAY

Como superar uma leitura que habitou lugares tão profundos? Nem sabia que dava pra chegar lá, tão dentro, um lugar novo e desconhecido pra mim.

Sabe quando você lê um livro que mexe tanto com coisas lá dentro que mesmo quando finaliza a leitura tem a nítida sensação de que não finalizou? A todo momento me pego pensando “vou ler Mrs. Dalloway”, só que já terminei a leitura há dias. Confesso que gosto dessa sensação do interminável, me soa como um fio longo de vida que sigo puxando.

Peguei pra reler algumas passagens, como quem não quer nada, estava impossibilitada de tirar as mãos desse livro, de mantê-lo distante. Não guardei de volta na prateleira, ele ficou na mesa, do meu lado o dia inteiro. Percebi que nunca vou parar de ler e reler esse livro, porque em suas páginas temos a vida em toda sua complexidade dolorosa, solitária e ao mesmo tempo é recheado de uma beleza incompreensível.

Mrs. Dalloway é um livro que se passa em um dia. Uma obra que contempla uma vida em apenas um dia. Clarissa vai dar uma festa e sai para comprar as flores. Como pode uma história tão simples ser algo tão imenso e profundo?

Fiquei pensando nos dias. Vamos vivendo um dia após o outro, nem sabemos lidar muito bem com essa passagem, uns precisam de rotina rígida, outros querem novidades diárias - na maioria das vezes nunca estamos satisfeitos com o caminhar dos dias. No fundo temos medo desse apressado caminhar, temos medo do envelhecer, do deixar de ser. Só que nada podemos fazer para evitar a noite. Todo dia o relógio bate seu tic toc, as nuvens passeiam, milhares de pensamentos e sentimentos nos habitam, nos transbordam.

O que sentimos ao longo de um dia realmente cabe em um livro (ou vários) são tantos sentimentos e pensamentos, um emaranhado enorme de vivências que experienciamos todas as vezes que abrimos os olhos. Cada pequeno ser está vivendo isso tudo de uma forma completamente diferente, acumulando experiências diferentes, captando e formulando outras e novas ideias.

Fiquei completamente apaixonada com a forma como os personagens vivenciaram o mesmo dia. Cada um tão diferente do outro. E lá estava eu, passeando por seus pensamentos, tendo um flash, um vislumbre de seus sentimentos, tudo ali em minhas mãos. Estava experienciando as experiências dos personagens através de seus pensamentos que foram escritos e criados através de outras experiências e pensamentos vindos bem de dentro da Virgínia Woolf.

Fiquei com vontade de escrever, com vontade de ler, de prestar mais atenção aos meus sentimentos e pensamentos ao longo do dia pra ver o que cabe em mim, o que me preenche. Fiquei assustada com o abismo diário que cerca nossas existências, fiquei ainda mais assustada ao perceber que quase sempre lidamos bem com isso, eventualmente vamos aprendendo a lidar com as lacunas vazias.

Essa leitura me deixou com vontade de caminhar pela cidade, de ver coisas e pessoas, me deixou com uma particular sensação de vida pulsante que não cabe no peito. É necessário mais.


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