BACO EXU DO BLUES



Eu amo o céu com a cor mais quente
Eu tenho a cor do meu povo, a cor da minha gente
Jovem Basquiat, meu mundo é diferente
Eu sou um dos poucos que não esconde o que sente
Choro sempre que eu lembro da gente
Lágrimas são só gotas, o corpo é enchente
Exagerado eu tenho pressa do urgente
Eu não aceito sua prisão, minha loucura me entende
Baby, nem todo poeta é sensível
Eu sou o maior inimigo do impossível
Minha paixão é cativeiro, eu me cativo
O mundo é lento ou eu que sou hiperativo, oh?

Não preciso escrever mais nada depois disso, certo? Certíssimo, bastaria colocar algumas partes dessas músicas do Baco, e pronto, já teria cativado meus leitores. Fácil, fácil. Mas será impossível não escrever um texto gigante sobre esse disco, me conheço bem.

Outro dia pedi indicações musicais lá no Instagram e algumas pessoas (não me lembro quem, infelizmente, pois queria dar um abraço apertado em cada uma delas) me indicaram ouvir esse tal de Diogo Moncorvo, um rapper baiano, conhecido como Baco Exu do Blues. Esse nome não me era estranho, quando fui pesquisar vi que aquela música "Te amo, disgraça" era dele, no entanto, nunca havia parado para ouvir as outras músicas, já que esse meu primeiro contato não foi lá grandes coisas. Mas como me foi recomendado e como tenho o hábito de ouvir o disco completo do artista, escolhi o mais recente, Bluesman, deixei tocando e fui fazer minhas coisas.

Poucos segundos depois, parei tudo. Com os fones no ouvido, só conseguia prestar atenção no que ele estava dizendo, nos acordes e na força daquilo tudo que estava chegando até mim. Já havia me levantado quando dei o play, mas tive que voltar a sentar, sentei na cama e ali fiquei até a última música tocar. Foram 30 minutos ouvindo o disco completo, mas me pareceu horas, me pareceu uma outra vida, de tão imersa e impressionada que estava. Sabe aquela sensação única e preciosa que te invade ao ouvir uma música boa, aquele arrepio, aquela emoção? 

Quando Bluesman acabou, senti explodir aquela excitação, aquela vontade de falar para o mundo inteiro que finalmente eu havia encontrado O Álbum Favorito de 2018! Mas não pude fazer nada, a única coisa que consegui fazer naquele momento foi escutar o álbum novamente. E novamente. E novamente. Várias vezes. Cada música tem um tom que a torna especial, uma mensagem importante, detalhes novos que saltam aos ouvidos cada vez que se escuta, é uma sequência tão boa que foi impossível não ouvir várias vezes seguidas. 

A princípio, as músicas que mais me chamaram atenção foram aquelas que tinham como tema a experiência de ser negro nessa sociedade doente: Bluesman, música magistral que abre o disco, depois Minotauro de Borges, Kanye West da Bahia e Preto e Prata. A força dessas músicas é algo insano! Elas são doloridas porque nos fazem lembrar como é a realidade, essa tal realidade que já nem nos esforçamos para esquecer, para fingir que não estamos vendo. E aí surge esse poderoso grito de dor e poesia em forma de disco e te faz pensar, te faz sentir como há tempos não pensava e sentia. Se liga:

Nasce na luta pela vida, nasce forte, nasce pungente
Pela real necessidade de existir
O que é ser um Bluesman?
É ser o inverso do que os outros pensam
É ser contra a corrente
Ser a própria força, a sua própria raiz
É saber que nunca fomos uma reprodução automática
Da imagem submissa que foi criada por eles
Foda-se a imagem que vocês criaram
Não sou legível, não sou entendível
Sou meu próprio Deus, meu próprio santo, meu próprio poeta
Me olhe como uma tela preta, de um único pintor
Só eu posso fazer minha arte
Só eu posso me descrever
Vocês não têm esse direito
Não sou obrigado a ser o que vocês esperam
Somos muito mais!
Se você não se enquadra ao que esperam
Você é um Bluesman

Essas músicas me arrebataram por motivos óbvios, mas depois fui percebendo a força que as outras músicas também carregam, e apesar de não terem o mesmo tema, são tão incríveis quanto. Por exemplo: Entro em você mais do que já entrei em bares/ Te amo aqui, mas te amo em outros lugares/ Louvre em Paris, me embriaguei, alguém me pare. Esse trecho é da música "Flamingos", tão sincera, tão desesperadamente apaixonante, excitante. É humano, sentimentos banhados em poesia. 

Ou: Cê tem uma cara de quem vai fuder minha vida/ O seu olhar é um caminho sem saída/ O seu corpo é um caminho sem saída. Trecho da linda e poderosa "Girassóis de Van Gogh", que relata uma paixão intensa e livre. Ele já sabe, não é amor, é cilada, mas ainda assim: Não quero mais dormir do seu lado/ Prefiro ficar acordado/ Guardando seu rosto pra lembrar de você. Incrível, não? Essas músicas sobre amor, sobre sexo, sobre relacionamento são incríveis, intensas e lindas. Não me canso delas. São diferentes da mesmice que toca no rádio, carregam uma sinceridade que nos faz reanimar memórias e experiências, novamente: nos faz pensar, sentir. Sentimentos banhados em poesia.

Bluesman se tornou meu álbum favorito do ano, disparado. E olha, esse foi um ano muito bom no quesito músicas, descobri taaanta coisa boa, mas Bluesman garantiu seu primeiro lugar logo na primeira faixa (sério, não me canso dessa música). Foi tão bom que me fez vir aqui - e fazia tempo que não me animava para escrever aqui, hein - e espero de coração que você, querido leitor, esteja já ansioso para ouvir o disco e espero que ele cause em você tamanho encantamento que causou em mim. Se você já ouviu, ou melhor, se foi você que me recomendou esse disco, deixe um comentário pra gente se amar, beleza? 

Ah, sempre bom lembrar que eu amo música e amo mais ainda receber recomendações, então se tiver algum disco legal aí, já sabe! ❤️ 


Divirta-se!

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