A VEGETARIANA


 "(...) ela sentia como se ainda tivesse uma ferida aberta dentro de si, uma ferida tão grande que parecia que todo o seu corpo estava sendo tragado por um buraco negro."

Hoje quero compartilhar um pouco da minha experiência de leitura com esse livro MA-RA-VI-LHO-SO. A Vegetariana foi escolhido lá no Discord para fazermos uma leitura conjunta, me animei demais porque fazia tempo que ele estava na minha lista e foi TÃO incrível que entrou para a lista dos favoritos do ano.

Esse livro foi escrito pela sul-coreana Han Kang, que faz aniversário um dia depois do meu (hehehe). Ela cresceu rodeada por livros e disse certa vez, em uma entrevista, que adora ler autores latinos. Um dos seus favoritos é Jorge Luís Borges, autor que morro de vontade de conhecer - ainda mais agora.

Han Kang escreveu A Vegetariana em 2007, mas o livro chegou aqui no Brasil apenas em 2018 pela Editora Todavia. A autora ganhou o Man Booker Price em 2016, super aclamada, mas existe uma questão com a tradução. Parece que a tradução do original para o inglês sofreu algumas alterações significativas pela mão da tradutora. Leia mais sobre isso aqui.

Em A Vegetariana acompanhamos o olhar de alguns personagens a respeito da Yeong-hye. Temos pouco espaço para ouvir a voz dela em si, mas ouvimos o marido, o cunhado e a sua irmã.

Respectivamente, o livro é dividido em três partes, cada personagem ganha seu espaço para compartilhar sua experiências e pensamentos. É uma parte mais marcante que a outra. Não consigo escolher qual é minha favorita, fui completamente fisgada pela autora.

Acontece Yeong-hye surpreende a todos simplesmente porque decide parar de comer carne. A partir desse ato revolucionário, mal visto e mal compreendido pela sociedade, os personagens ao redor de Yeong-hye começam a agir. Com um misto de traumas, loucuras e pesadelos, entramos nessa história e saímos transformados.

O livro é puro incômodo. Incomoda ao mostrar como as mulheres são tratadas, silenciadas, agredidas. Incomoda ao mostrar como as aparências e o seguir as normas são mais importantes para alguns do que saúde mental dos seus familiares e amigos. Incomoda ao mostrar traumas e pesadelos. Incomoda pela violência brutal que não tem fim.

Adoro esses livros curtinhos que você não dá nada, mas quando lê leva um soco fortíssimo no estômago. Já começa bem por aí.

Mas tem muitas coisas boas pra falar sobre esse livro:

A narrativa te prende, te devora. Impossível desviar os olhos, apesar do estômago embrulhado, da testa franzida, do coração apertado. Dá vontade de desviar os olhos, mas a vontade de não quer parar a leitura é maior.

Amo livros que abordam temas profundos, nesse caso podemos refletir muito sobre violência contra a mulher, vegetarianismo, traumas de infância, relacionamentos abusivos, desejos reprimidos, depressão. A lista vai longe.

É uma leitura e tanto!

O tema que mais me chamou atenção foi a questão da saúde mental. Personagens que vivem suas vidas - assim como nós, muitas vezes - em meio a uma neblina tão densa que é difícil enxergar o que está a frente. Traumas, relacionamentos ruins, pressão da sociedade, julgamentos - tudo isso vira um combo infernal, pesando sob os ombros das personagens, nos fazendo refletir sobre o que estamos carregando também.

"Tenho alguma coisa entalada na boca do estômago. Não sei o que é. Mas está sempre aqui. Mesmo depois de parar de usar sutiã, não deixei de sentir esse incômodo. Por mais que respire fundo, esse aperto no peito não passa. Gritos e choros se sobrepõem e ficam encravados aqui. É por causa da carne. Comi carne demais. Todas essas vidas estão entaladas aqui. Tenho certeza. Sangue e carne foram digeridos e se espalham por todos os cantos do meu corpo; os resíduos foram colocados para fora, mas as vidas insistem em obstruir o plexo solar."

Realizei essa leitura no meio de uma semana estranha e caótica, estava morrendo de dor de cabeça e me sentindo mal. Separava algumas horas do período da tarde para relaxar, deitar e ficar quietinha, lendo. Numa dessas tarde li "A Vegetariana", com dor de cabeça, com um monte de sentimentos estranhos e confusos. Em certos momentos, me vi tão dentro daquelas páginas que fiquei assustada. Cochilei, tive sonhos frenéticos e bizarros.

Esse livro foi uma experiência extremamente poderosa e marcante.

Recomendadíssimo.

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Um comentário

  1. ler esse livro com vocês foi uma experiência incrível! adorei saber que ela gosta de Borges, sou doida para lê-lo!

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